Vida de intercâmbio é moleza

A história que conto para quem acha que vida de intercâmbio é moleza

Muitos acham que fazer intercâmbio são só flores, mas mal sabem eles que por trás de lindas fotos tem muita ralação. Por isso dedico essa história para quem acha que a vida de intercâmbio é moleza!

Primeiro que para conseguir trabalhar na Europa tem que procurar bastante. Segundo que, a maioria dos empregos para estrangeiros são os chamados subempregos, ou seja, empregos não qualificados e às vezes informais. Então mesmo para quem tem formação, acaba sendo bem difícil conseguir emprego na área, embora não seja impossível.

Como para mim não foi diferente, quando eu morei em Dublin, demorei bastante para conseguir emprego como garçonete, especialmente porque quando eu cheguei, não tinha nada de inglês.


Apesar de ter ainda muita dificuldade em me comunicar, comecei a procurar possibilidades de emprego. Foi quando eu vi uma oportunidade para fazer uma graninha extra. Uma brasileira postou que tinha vagas para cleaner (faxineiro) no Electric Picnic (festival de música eletrônica) e que quem tivesse interesse, ela anotaria o nome e era só aparecer em tal lugar e levar barraca para dormir durante os dias do evento.

Na hora eu fiquei em dúvida se ia ou não, pois não tinha barraca e fiquei imaginando como seria a tal da faxina. Mas fiz um cálculo rápido de quanto ganharia, provavelmente trabalharia 8 horas por dia, durante 5 dias, por 8,65 euros a hora (salário mínimo da época). Moleza! Nessa “brincadeira” ia ganhar 266 euros, metade do que eu gastava no mês trabalhando apenas 5 dias. Sobre a barraca, eu pediria para dividir com alguém lá, já sabia que haveriam vários brasileiros mesmo.

 

A Emboscada!

 

Então, lá estava eu toda animada no ponto de encontro, conhecendo vários brasileiros super gente boa. Percebi que a maioria da galera estava mais animada para curtir o festival de graça.

Chegando lá a galera começou a montar a barraca e eu sem se quer ter o que montar. haha! Ainda bem que isso acabou não sendo um problema para mim porque mais tarde me ofereceram. =)

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Então fomos perguntar para os responsáveis quando íamos começar a trabalhar. A menina que nos recrutou não estava lá. Quem estava cuidando eram alguns irlandeses e trabalhando tinha apenas brasileiros e romenos.

A irlandesa nos falou que não precisava de todos trabalhando ainda. Imaginei que era porque o festival tinha acabado de começar e não devia ter chego muita gente ainda. O problema é que ela não falava quando íamos começar e disse para esperarmos que ela chamava aos poucos. Oi? A coisa já começou errada desse ponto. Como assim ficar esperando sem saber que horas iríamos? Qual seria o critério dela para escolher quem iria se todos queriam? Não que quiséssemos mesmo trabalhar, mas ganharíamos por hora né!

Para conseguir ir logo, alguns de nós ficamos esperando lá perto dela para sermos os primeiros a ir, já que tava tudo bagunçado. Mas em pouco tempo estava todo mundo lá, sentado no gramado esperando de bobeira. Aí ela começou a chamar alguns grupos enquanto outros continuavam de bobeira.

No final do dia, alguns tinham trabalhado 6, 5 horas, alguns apenas 4. Acho que eu trabalhei umas 5 horas e estava bem chateada com a situação. Fora o cansaço porque era um abuso total o que eles faziam, tínhamos que ficar recolhendo latinhas, chicletes, embalagens e qualquer tipo de sujeira do chão sem nenhum equipamento. Ou seja, tínhamos que ficar agachando e levantando toda hora. A única coisas que nos deram, foram luvas. Até as roupas eram as nossas próprias, exceto pelo colete com o nome da empresa.

 

O Festival

 

Eletric Picnic 2013
Primeira noite de festival.

 

Conforme todo mundo foi chegando fomos comendo (outro absurdo: eles forneciam café da manhã, almoço e jantar mas cobravam 10 euros por dia) e tomando banho.

De fato, podíamos ir curtir o festival, mas percebemos que isso não agradava muito. A princípio, foi eu, minha amiga e mais alguns romenos, mas acabamos encontrando a resto da galera lá mais tarde.

Quando deu umas 3 horas da manhã eu fiquei com sono e resolvi ir embora. O resto da galera quis ficar e eu voltei sozinha. Foi aí que começou a sequência de perrengues.

 

Perdida

 

Não sei como mas eu me perdi BONITO dentro do evento. Comecei indo para o caminho certo, mas errei em alguma entrada e demorei para perceber que estava no caminho errado, então não sabia mais voltar.

Então fui perguntando para os seguranças como eu chegava no camping. Claro que através de mímica e palavras soltas. Haha!
O problema é que ninguém sabia a onde era o camping que eu estava, isso porque eu falava o nome da empresa de limpeza. Acho que como o evento era muito grande os funcionários não estavam a par de tudo.

Entre algumas indicações eu fui me perdendo mais ainda até não saber mais o que fazer para me encontrar.

Nessa um dos seguranças do evento começou a andar comigo, mas era meio inútil já que nem ele sabia para onde ir. Então passou outros seguranças de carro e ele pediu para eles me ajudarem a me encontrar.

Quando entrei no carro fiquei mais tranquila, ele disse que ia passar por todo canto até eu reconhecer o camping. Só que eu não reconhecia de jeito nenhum, lugar nenhum.

Então eu tive uma ideia, voltar para o centro do festival e ir de lá a pé para o camping porque achei que assim eu lembraria. O segurança, muito gente boa, topou e disse que iria comigo a pé. Mas a cabeçuda aqui continuava sem se achar. =(

Voltamos para o carro e ele resolver passar só pelos campings mais próximos. Foi quando finalmente achamos! E adivinha só que horas eram? 6:30 horas da manhã!

Perdida no festival porque vida de intercâmbio é moleza
Mapa do festival, o acampamento da empresa de faxina ficava depois da área amarela.

 

Virando picolé na barraca

 

Corri para a barraca para me acomodar e dormir as 2 horas que me restavam. Mas como eu disse antes, é uma sequência de perrengues e não iria parar por aí né?

Eu já tinha passado um frio danado nessa de ficar perdida em uma noite congelante, devia estar uns 8 graus. Só que chegando na barraca isso não melhorou, muito pelo contrário. A barraca estava transpirando, toda a humidade de fora estava entrando na barraca. Tentei me enrolar no cobertor tipo casulo, mas minhas costas congelavam e eu não parava de tremer. Assim se passaram 1h30, até que eu desistir e levantar para trabalhar.

 

Acordando de um pesadelo

 

Como “acordei” bem cedo não precisei nem competir com outros grupos que queriam trampar, a galera não tinha acordado ainda. Foi eu e mais um menino do grupo de brasileiros. Ficamos trabalhando o tempo todo junto, trocando idéia.

Apesar de estar cansada as primeira horas passaram rápido porque acabamos nos perdendo do nosso “líder” (cada equipe de faxina tinha um) e ficamos por conta. Só que mais tarde demos o azar de um outro líder nos ver e ele perguntou porque estávamos sozinhos e nos fez ir com ele. Foi trágico porque ele acabou com a gente. Fez a gente andar por todos cantos, catar latinhas a onde mais tinha.

 

O ápice dos perrengues

 

Depois de 9 horas trabalhadas cheguei no acampamento exausta. Tratei logo de tomar um banho para esquentar.

A notícia boa é que a galera tinha achado caixas de papelão e todo mundo colocou no chão das barracas para esquentar. Não era só eu que tinha passado frio.

O melhor é que papelão é realmente uma maravilha! Não passei mais frio dentro da barraca nos dias seguintes. #ficaadica

Então deixei meu celular carregando em um cantinho e fui comer feliz de ter resolvido o problema da barraca.

Depois de comer resolvi continuar no refeitório batendo papo com a galera enquanto meu celular carrega, então levei meu prato para o balcão e voltei a sentar.

Só que quando eu levantei para ir embora, o cozinheiro começou a BERRAR comigo falando que eu não tinha levado o prato para o balcão e que eu não tinha educação. Tentei explicar no meu inglês índio que eu já tinha deixado no balcão o prato mas que sentei de novo para conversar e que agora estava indo embora.

O problema é que tinha um prato do lado do lugar que eu estava sentada e ele achou que era meu e praticamente me forçou a ir lá pegar o prato. Fiquei super irritada com aquilo, peguei o bendito prato e fui embora.

Então quando fui pegar meu celular, percebi o erro fatal que eu cometi, porque ele não estava mais lá. Tentei ligar mas ele já estava desligado. Assim caiu por terra todas as contas que eu tinha feito da grana que eu ia ganhar com o festival. O prejuízo já era maior.

 

Hashtag chateada

 

Depois de ficar a noite perdida, passar frio na hora de dormir, trabalhar que nem uma condenada agachando e levantando, ser xingada pelo cozinheiro e ser roubada, não aguentei e comecei a chorar que nem uma criança. =(

A galera tentou me animar e acabaram me convencendo de ir curtir o festival apesar de tudo. O que foi ótimo porque a noite foi muito boa e acabei me distraindo bastante. A Galera era muito legal e ficamos muito próximos.

Dessa vez resolvi voltar com eles para não me perder de novo. haha!

Amigos no festival em Dublin
Parte da galera que conheci! =)

 

“Come on guys, come on!”

 

Os próximos dias foram tranquilos, mas cansativos.Todo mundo estava reclamando muito de dor no corpo. A gente ficava 95% do dia de pé e era realmente muito puxado ficar catando coisa no chão.

Eram ao todo 2 noites de festival: sábado e domingo. Os outros 2 dias estavam reservados só para limpeza. Então segunda de manhã a galera começou a desistir e chamaram uma van para ir embora.

Vou falar que eles escaparam bonito de uma viu, porque no dia seguinte, os campos que estavam reservados para as barracas dos visitantes estavam uma zona total. Sacos de lixos deixados lá, alimentos grudados na grama, latas e mais latas, tinha de TUDO.

Os líderes nos colocavam uns do lado dos outros a uma mão de distância e nos faziam andar recolhendo TUDO que víamos pela frente. Se deixássemos uma migalha passar eles nos MANDAVAM voltar. Gritavam o tempo todo “Come on guys, come on!” para irmos mais rápido. Foi o dia INTEIRO assim. Ficamos completamente enlouquecidos com essa situação. Mesmo para almoçar estava diferente dos outros dias, eles não nos levaram para o refeitório, nos deram apenas um lanche no caminho e nos fizeram comer em 20 minutos.

 

Chega de “Come on guys”!

 

Então ao final da segunda desmontamos a barraca e fomos embora também, mesmo faltando dois dia para encerrar. Era finalmente o fim da tortura!

E o balanço do prejuízo? Dias depois fui retirar o dinheiro e além de ter várias horas a menos do que eu esperava, eles ainda descontaram algum tipo de imposto. Ou seja, o prejuízo tinha sido ainda maior.

Mas bola pra frente porque apesar dos pesares, valeu a pena! Afinal foi uma baita experiência de vida e conheci uma galera show de bola! Além é claro te ter esse perrengue no currículo para contar e ainda mostrar, que quem acha que vida de intercâmbio é moleza, estava errado! Haha =)

 

E aí, você já passou por algum perrengue como esse? Conta pra mim nos comentários! =)

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